sexta-feira, 6 de junho de 2014

Senac Pleno: Plataforma de Engajamento

Artigo da palestra Senac Pleno: Plataforma de Engajamento

Palestra apresentada em 06/jun/2014, na IV Conferencias TIC & Educação, realizadas pela UFS - Universidade Federal de Sergipe. Publicado nos Anais do evento em maio/2015.

Paulo do Eirado Dias Filho¹

Antônio da Conceição Ramos²


¹Especialista em Pedagogia Empresarial pela Faculdade São Luís de França. Graduado em Pedagogia pela Faculdade São Luís de França. Docente da Disciplina Empreendedorismo em Cursos de Pós-Graduação “Lato Sensu”. Diretor Regional do Senac/SE e criador do Programa Plataforma de Engajamento Senac Pleno.
²Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Tiradentes. Graduado em Pedagogia e Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras. Docente da Rede Pública do Estado de Sergipe e em Nível Superior e Coordenador do Programa Plataforma de Engajamento Senac Pleno.



Senac Pleno: Plataforma de Engajamento
“Porque tudo o que acontece neste mundo começa antes no coração das pessoas”. (Dadi Janki)

1.                 Introdução
              A educação brasileira atravessa grandes desafios, fato que é sabido por todos e mal resolvido por muitos. Um dos problemas mais evidenciados é a concentração das políticas educacionais com prioridade conteudista nos currículos escolares. Crê-se, na escola brasileira, que basta ter domínio do conhecimento para formar adultos e cidadãos livres. Estamos presos pela máxima do pensamento lógico do século XVII: “Penso, logo existo”, citada por René Descartes (1596-1650), que quando aplicada aos dias de hoje, torna-se uma armadilha que aprisiona quase todo nosso sistema de ensino.
              Ainda nesse rico período da história pré-industrial, o homem chegou a acreditar que poderia predizer todos os acontecimentos futuros por meio de fórmulas matemáticas. Tal pensamento deriva da equação planetária de Kepler (1571-1630), que ao observar que poderia prever acontecimentos astronômicos com precisão, levou muitos a acreditar que se poderia extrapolar essa fórmula para todos os outros fenômenos, inclusive humanos, de forma determinista.
              Prosseguindo a saga da elevação do intelecto sobre as demais faculdades humanas, a doutrina da razão é revisitada em Kant (1724-1804), adepto do Iluminismo e estudioso de Descartes, que afirmou: “Ouse pensar”. A essa época, o pensamento lógico e a escolaridade eram atributos de poucas pessoas e se fazia necessário combater o analfabetismo e fomentar conhecimentos matemáticos básicos, para assim, desenvolver pessoal técnico capaz para o trabalho na incipiente e materialista Revolução Industrial.
              Estaria a nossa escola atrelada a esse modelo de duzentos anos atrás? Infelizmente, em grande parte sim. É o que afirma Kincheloe, ao sentenciar que a escola modernista ancora-se sobremaneira nos valores do passado, o que mantém os alunos “vítimas das restrições das gerações passadas” (1997, p. 50). Essa “vanguarda” da razão e da intelectualidade no âmbito escolar é empobrecedora da visão sobre o homem, pois o reduz à esfera do pensar cognitivo, erguido sobre as bases cada vez mais instáveis do conhecimento. Nos alerta Morin (2006, p. 19):
A educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado. O conhecimento é causa de erros e ilusões. Devemos destacar, em qualquer sistema educacional, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer. O conhecimento permanece como uma aventura para a qual a educação deve fornecer o apoio indispensável.
              Contudo, essa exagerada ênfase no conteúdo cognitivo “pasteurizado”, por vezes transmitido por professores despreparados, configura a “educação bancária” criticada por Paulo Freire (1921-1997), autor do termo. A esse respeito, o saudoso Tom Jobim disse, com a autoridade de raro gênio: “A inteligência é o mais pobre dos atributos humanos”. Acontece que esse problema da educação escolar desconectada da realidade do aluno não é recente, e já combatida há muitos anos, conforme revela Rousseau (1992, p. 121):
Como tudo que entra no conhecimento humano entra pelos sentidos, a primeira razão do homem é uma razão perceptiva; ela é que serve de base à razão intelectual: nossos primeiros mestres de filosofia são nossos pés, nossas mãos, nossos olhos. Substituir tudo isso por livros não é ensinar-nos a raciocinar, é ensinar-nos a nos servirmos da razão de outrem; é ensinar-nos a acreditarmos muito e a nunca sabermos coisa alguma.
              Diante desse cenário, o Senac em Sergipe, consciente do seu papel como entidade de referência, provedora de Educação Profissional, passou a desenvolver projetos pedagógicos transversais que ofertassem uma gama maior de oportunidades de aprendizagem aos seus alunos, a partir do ano de 2009.
              Após a realização de dezenas desses projetos integradores, cuja maioria envolveu alunos, técnicos e instrutores em suas execuções; buscou-se a recuperação dos dados coletados nessas experiências para compilar conhecimentos e formular uma proposta que orientasse e disciplinasse a produção dos projetos futuros com ênfase em uma educação integral. O fruto desse trabalho em equipe é o Programa Senac Pleno – Uma plataforma de engajamento para alunos da instituição, que visa ofertar algo mais que o mero cumprimento das obrigações legais e curriculares.
              Inspirado no lema: “Vivencie para Saber”, o Senac Pleno valoriza o aprendizado profundo que se realiza por meio de experienciar uma nova e multifacetada realidade; possuindo ainda, uma sugestiva hélice tripla como logomarca  (Figura 1).


Figura 1

2.                 O homem tridimensional
              Há alguns poucos milhões de anos, nossos hominídeos ancestrais “desceram das árvores”³, ocupando as planícies da savana africana. Tal ocorrência os levou a conquistar o bipedalismo (capacidade de andar sobre dois pés), que implicou em liberar as mãos para outras finalidades que não o apoiar-se, e a consequente liberação da boca para a aquisição da fala, conforme ensina Alfred Bauer.
              A conquista da posição vertical em relação à terra e da diferenciação dos membros em mãos e pés, pernas e braços (ocorridos na aprendizagem do andar) é, para Steiner, o aprendizado da estática e da dinâmica do Homem interior em relação ao Universo (STEINER, 2000, p. 37 apud OLIVEIRA, 2006, p. 67). Em suas palavras:
O andar é (...) uma abreviatura, uma curta expressão de algo muito mais abrangente. Dizemos que a criança aprende a andar pelo fato de este aspecto ser o mais evidente. Mas este aprender a andar implica colocar-se em posição de equilíbrio diante do mundo espacial. Enquanto crianças, procuramos a postura ereta, procuramos colocar as pernas em tal relação com a força da gravidade que com isto possamos obter equilíbrio. Tentamos o mesmo com os braços e as mãos. Todo o organismo se orienta. Aprender a andar significa encontrar as direções espaciais do mundo e nelas engajar o próprio organismo (STEINER, 1994a, p. 12).
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 ³Desde que desceram das árvores, os ancestrais do homem moderno começaram a adquirir habilidades por alterações físicas que mais tarde originariam o Homo sapiens.

              Além dessa conquista evolutiva, nossos antepassados, então errantes a céu aberto, adquiriram grande intimidade com os planetas e as constelações celestes; e assim aprenderam, ao longo de toda a evolução pré-Revolução Industrial, a guiar-se pelo céu no tempo e no espaço. Por certo, a tridimensionalidade se torna o ambiente natural dos humanos, agora Homo sapiens. Seja na relação do espaço dividido em três dimensões (largura, altura e profundidade) ou na interpretação do tempo, triplamente dividido em passado, presente e futuro.
              Para que a tridimensionalidade seja, de fato, o ambiente natural dos seres humanos, a natureza os dotou de três instrumentos fisiológicos e funcionais para a correspondente leitura de cada uma dessas dimensões.
Com relação à natureza anímica humana, Platão assim definiu: “Há três membros (tría trichè) da alma: logistikón, timocrática e epitimétrica”. Isso pode ser assim traduzido: “A alma é trimembrada”, entre pensar, sentir e querer (ANDRADE, 1994 apud MARQUES, 1997).
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              Aprendemos no Ensino Fundamental que o corpo humano se divide em cabeça, tronco e membros. Então, a Pedagogia Waldorf, contribuinte do Programa Senac Pleno, revela-nos que possuímos na cabeça o Sistema Neuro-Sensorial, a sede do Pensar (cognitivo); no tronco, acima do Diafragma, o Sistema Rítmico, a sede do Sentir (emotivo); e nas vísceras e membros, o Sistema Metabólico-Reprodutor-Motor, a sede do Querer (volitivo). A partir dessa cosmovisão do ser humano, essa linha pedagógica humanista desenvolveu práticas educativas que visam harmonizar o desenvolvimento das crianças e jovens nessas três esferas simultaneamente, e com igual intensidade em suas aulas e atividades escolares. Assim, a educação se dá nos níveis correspondentes de consciência, semi-consciência e inconsciência, representado por cada um dos três sistemas, nessa ordem.
              Conforme explica Rudolf Lanz (2000), para pensar, observar e conhecer, o indivíduo deve estar separado do objeto, de modo que esse possa ser definido, analisado, situação esta que tem como característica a “antipatia”.
Em contraste o querer só pode dirigir-se ao futuro. Nós nos unimos ao que queremos por um sentimento de simpatia; queremos ser uno com nosso ato. Ao querermos algo projetamo-nos em direção ao futuro, da mesma forma como nos voltamos para o passado ao “conhecermos” (LANZ, 2000, p. 91).
              Quanto ao sentir este autor diz: O sentir, sempre dirigido para uma vivência presente re’present’ada, esta no meio entre ambas (2000, op. cit. ).
              O Pensar - Reconhecemos que nossa capacidade de pensar está estruturada pelas vivências, pelas experiências passadas, pela memória e pelos conhecimentos adquiridos anteriormente. Pensar sobre o passado é uma experiência natural a todos nós. Porém, pensar sobre o que acontecerá no futuro é mera especulação, de tal forma que os que dizem possuir essa capacidade são ditos sobrenaturais. Diante do exposto, concluímos que o Sistema Neuro-Sensorial, sede do pensar, é o nosso instrumento adequado para lidar com o passado. Do ponto de vista fisiológico, encontra-se sediado principalmente na cabeça, região maior dos nossos sentidos, por onde captamos o mundo e nos alimentamos, ou seja, trazemos o mundo exterior para dentro de nós. O Pensar “é exercitado pela linguagem cognitiva ou lógica”,...e “não suporta repetições” (OLIVEIRA, 2006, p. 45).
              O Querer - O agir humano é expresso pelo trabalho e resultante da vontade de fazer, ainda que bruta ou instintiva; unida a uma ação motora. O querer, sediado no Sistema Metabólico-Reprodutor-Motor é a expressão da volição em seu estado mais inconsciente, ou seja, são as forças mais naturais, viscerais e autônomas. Como consequência, toda ação se dá na construção do futuro, uma vez que não conseguimos agir sobre o inalcançável passado. Quanto à fisiologia, trata-se da esfera excretora do corpo e tem a maioria dos órgãos trabalhando de maneira involuntária, obediente a seus próprios ritmos. A educação dessa atividade anímica “se dá pela via da repetição (do ritmo), dessa forma só se pode aprender algo pela insistência” (p. 45, op. cit.).
              O Sentir - Expressa a dimensão que corresponde à esfera emocional, responsável pelas relações sociais dos indivíduos. Por outro lado, é o Sistema Rítmico, sede do sentir, que nos coloca situados no presente, o aqui e agora. A própria fisiologia nos revela que a incessante troca realizada é tão fortemente vinculada ao presente, por meio da inspiração e expiração, além de sístole e diástole; que sem a qual não se sobrevive mais que alguns poucos minutos. Por ser o sistema mediador e regulador das polaridades conscientes e inconscientes, é o provedor dos nossos sonhos, sendo “atingido por meio de imagens (que podem se dar por meio de uma linguagem onírica, que se dirija à imaginação)” (p. 45 op.  cit. ).

3.                 Escola e trabalho: uma união possível
              Para a formação das competências profissionais, o Senac em Sergipe entende que se deve aliar os fundamentos pedagógicos, andragógicos e técnico-profissionais ao processo educativo numa experiência em que haja troca de papéis protagonistas entre docentes e alunos, considerando a relevante bagagem de experiências que estes últimos já possuem ao ingressar nos cursos profissionalizantes, a partir dos dezesseis anos de idade. Diante dessa perspectiva, Vasconcelos (2003, p. 140) alerta: “Nenhum observador pode fazer referência a algo real, que exista independentemente dele, para validar sua experiência. Não há outra forma de validar, a não ser por meio de outra experiência”.
              Além disso, merece destaque que as carências causadas por uma vida escolar precária implicam em deficiências na atuação profissional futura, se não superadas por um programa de capacitação. Ainda em 1919, Rudolf Steiner, criador da Pedagogia Waldorf, demonstrava preocupações com a ausência de ações pedagógicas para as esferas afetivas e volitivas dos escolares.
Na educação e no ensino do futuro, deverá ser atribuído um valor muito especial ao cultivo da vontade e da vida afetiva. Mesmo aqueles que não cogitam de uma reforma do ensino e da educação afirmam a necessidade de se dar especial consideração à educação volitiva e emotiva: mas não obstante toda a boa vontade, não pode haver, desse lado, muitas contribuições para essa educação da vontade e dos sentimentos. Esta continua deixada ao assim chamado acaso, por não existir nenhuma compreensão da real natureza da vontade (STEINER, 1988, p. 52).
              Presentemente, o conhecido Relatório Delors, intitulado “Educação: um tesouro a descobrir”, oferta as bases da Unesco (1998) para a Educação no século XXI. Nele, são apresentados quatro pilares a serem trabalhados nas ações pedagógicas escolares, assegurando uma educação integral e adequada ao cenário atual. São eles:
              a) Aprender a conhecer - Essa aprendizagem se refere à aquisição dos "instrumentos do conhecimento", desenvolvendo nos alunos o raciocínio lógico, a capacidade de compreensão, o pensamento dedutivo e intuitivo e a memória.
              b) Aprender a fazer - Saber fazer ou dominar competências não se separa de aprender a conhecer, mas confere ao aluno domínio tecnológico que aplicará na prática aos conhecimentos teóricos, combinando aptidão para o trabalho em equipe com capacidade de iniciativa.
              c) Aprender a conviver - Esse domínio da aprendizagem atua no campo das atitudes e dos valores, além de envolver uma relação social saudável contra o preconceito e as rivalidades diárias que se apresentam no desafio de conviver. É a arte da construção das relações pessoais e da cultura da cooperação.
              d) Aprender a ser - Essa aprendizagem depende das outras três, e dessa forma a educação deve propor como uma de suas finalidades essenciais o desenvolvimento do indivíduo, espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade.
              Igualmente presente em nossos dias está a exigência da construção de competências profissionais para a superação dos desafios do mundo do trabalho. Assim, unindo a necessidade de aprender continuamente para o trabalho, Durand (1998 e 1999, apud BRANDÃO, 1999), utilizando as chaves do aprendizado individual de Pestalozzi (1746-1827) - cabeça, mão e coração -, apresenta um conceito de competência referendado nas dimensões conhecimentos, habilidades e atitudes, reunindo aspectos cognitivos, técnicos, sociais e afetivos relacionados ao trabalho.
              Sendo as competências formadas por conhecimentos, habilidades e atitudes, a junção das três iniciais (CHA) reúne o que um posto de trabalho de uma empresa exige para que o serviço/produto seja bem administrado e feito em conformidade com os padrões mais exigentes. Essas atribuições estão definidas a seguir:
              a) Conhecimento é o saber que a pessoa acumulou ao longo de sua vida (DURAND, 1998, apud CZELUSNIAK, 2007). Relaciona-se com a capacidade de abstração, o raciocínio lógico e os atributos intelectuais e cognitivos associados ao domínio teórico para solução de problemas.
              b) Habilidade refere-se ao saber como fazer algo (GAGNÉ et al., 1988, apud BRANDÃO, 1999). Revela a capacidade de execução prática da solução de problemas, isto é, a ação disciplinada na realização de uma determinada tarefa/atividade com eficiência.
              c) Atitude é a predisposição do indivíduo em relação à adoção  de  um curso de  ação. Domínio relacionado a sentimentos, crenças e valores (BLOOM et al., 1973, apud BRANDÃO). Refere-se aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho (DURAND, 1997). Pode-se dizer que é a “postura” que o indivíduo adota em relação aos eventos, pessoas ou coisas, decidindo por um curso de ação pessoal, visto que as pessoas têm preferências por determinados tipos de atividades e demonstram interesses por certos eventos em detrimento de outros.

4.                 A grande convergência
              “As leis gerais são muito poucas. As metamorfoses é que são infinitas”. (Goethe)
              Como vimos, a educação regular ideal, segundo a Pedagogia Waldorf, deve atuar no desenvolvimento educacional das esferas da cognição, da emoção e da volição para a formação harmoniosa do ser humano dotado de amplas potencialidades e capaz de definir por si os rumos da própria existência. Ou, nas palavras de Rudolf Steiner: “... nosso mais alto empenho deve ser o de desenvolver seres humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas vidas”.
              Postulado Euclidiano define que “por três pontos não colinerares do espaço passa um único plano”. Com base nisso, à imagem da própria instituição da Universidade ordenada sobre o tripé Pesquisa, Ensino e Extensão, o Senac Pleno define seu plano sobre os três pontos anteriormente citados, como atividades anímicas gerais do ser humano: Pensar, Querer e Sentir - que ao passar por metamorfoses funcionais apresentam-se como Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver,  ao aproximarem-se dos parâmetros educacionais; ou sob a forma de Conhecimentos, Habilidades e Atitudes, ao revelarem-se na linguagem das Competências exigidas no mundo do trabalho.    
              Conforme Saturnino de la Torre,
A aprendizagem integrada poderia ser descrita como o processo mediante o qual vamos construindo novos significados das coisas e do mundo ao nosso redor, ao mesmo tempo em que melhoramos estruturas e habilidades cognitivas, desenvolvemos novas competências, modificamos nossas atitudes e valores, projetando tais mudanças na vida, nas relações sociais e laborais. E isto baseado em estímulos multissensoriais ou processos intuitivos que nos impactam e nos fazem pensar, sentir e atuar (TORRE, 2004, p. 82).

5.      O Programa Senac Pleno – Plataforma de engajamento

              Uma vez entendido o paralelismo entre as estruturas tridimensionais da educação e da formação das competências, o Programa Senac Pleno teve seus mecanismos de utilização definidos em três Arcos:





              ARCO I: Ênfase em Conhecimentos/Aprender a Conhecer/Pensar
              Aprender por meio da aquisição dos "instrumentos do conhecimento" a desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade de compreensão, o pensamento dedutivo, indutivo, analítico, sintético e a memória. Além de propiciar um ambiente estimulante ao pensar criativo e atento às oportunidades do moderno ambiente tecnológico. Visa, ainda, ampliar a bagagem teórica e a articulação mental interdisciplinar dos alunos.
Caixa de texto:  Circulo base com os arcos e respectivos setores
Este ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:

              •Reforço Técnico-Profissional e Itinerário Formativo
              Oferecer reforço escolar como complemento para a formação profissional e suporte técnico para sanar dúvidas dos egressos, além de roteiros para educação continuada.
              •Interdisciplinaridade, Pesquisa e Gestão do Conhecimento
              Oferecer o domínio de ferramentas capazes de lidar com os desafios da economia do conhecimento, caracterizada pela larga capacidade de produção e oferta de oportunidades.
              •Fronteiras Humanas: Narrativas Exemplares
              Oferecer acesso a expoentes, ícones e celebridades nos diversos campos do conhecimento e das atividades humanas, por meio de palestras, workshops e momentos de convivência.
              • Inovação, Criatividade e Tecnologia
              Oferecer estímulos ao pensamento criativo e, consequentemente, enxergar na inovação tecnológica uma oportunidade de geração de valor.
              ARCO II: Ênfase em Habilidades/Aprender a Fazer/Querer
              Agir com coerência entre a teoria e a prática, educar a volição, exercer práticas instrumentais, artes e protagonismo, com o objetivo de empreender a construção dos seus projetos e estimular a visão de longo prazo.
              Este ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:
              •Empreendedorismo, Superação e Realização Pessoal
              Oferecer instrumentos e estratégias para a construção de sonhos e projetos de vida, com visão de longo prazo e estabelecimento de metas, buscando sempre um futuro melhor.
              •Artes, Talentos e Novas Aptidões
              Oferecer experiências inéditas que possam manifestar talentos diferenciados, propiciando a descoberta de potencialidades e aquisições de novas habilidades. Fazer da arte um estimulador pedagógico.
              •Esportes, Jogos e Eventos
              Oferecer a oportunidade de execução de projetos, atividades esportivas e lúdicas, preferencialmente coletivas, capazes de proporcionar o reconhecimento de valores éticos, como o respeito às regras e às pessoas, visando aumentar a resiliência e a capacidade de conviver com a adversidade.
              •Autoria, Protagonismo e Cocriação
              Oferecer ações que incentivem a autoria de produção própria, individual ou coletiva e educar para o racional compartilhamento dos recursos disponíveis.
              ARCO III: Ênfase em Atitudes/Aprender a Conviver/Sentir
              Motivar as atitudes corretas, os valores humanos e a construção de um nobre código de ética, estimulando a harmonia das relações sociais, das redes de relacionamentos, da cultura para o trabalho, da imagem pessoal e profissional e da qualidade de vida.
              Este ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:
              •Cultura Empresarial, Empregabilidade e Liderança
              Oferecer condições para o desenvolvimento de atitudes construtivas no trabalho que visem fortalecer o desenvolvimento profissional e da carreira, bem como da imprescindível confiabilidade.
              •Rede de Relacionamentos, Trabalhos Cooperados e Reputação
              Oferecer exemplos atitudinais que ampliem positivamente relacionamentos afetivos e do trabalho, além do cuidado com a imagem pessoal e a comunicação interpessoal.
              •Sustentabilidade, Cidadania e Inclusão
              Oferecer ambiente de incentivo à cultura de preservação do planeta e da zelosa e construtiva convivência social, a partir do respeito às diferenças.
              •Apoio Vocacional, Saúde e Segurança
              Oferecer apoio na escolha profissional e ações de prevenção e garantias básicas de saúde física e mental que assegurem evolução cognitiva.
              A metodologia do Senac Pleno consiste em confrontar o desempenho de um dado projeto em relação a cada um dos seus doze setores, pontuando valores em uma escala de 0 a 5 pontos, conforme a pertinência. A partir dessa tabulação, o sistema informatizado produz um gráfico radar sobre o círculo base com os arcos e os respectivos setores, demonstrando a abrangência, as ênfases e as ausências avaliadas no projeto em estudo. Com efeito, a análise gráfica permite, além do registro, o feedback sobre o resultado do projeto, bem como o nível de sucesso atingido. Em suma, é uma ferramenta potencial para a gestão do conhecimento que oferece elevado aprendizado aos operadores e analistas educacionais, sobre a efetividade de projetos pedagógicos transversais.
              Exemplos estão dispostos nos anexos.


6.                 Considerações finais
              Nos últimos cinco anos, o Senac em Sergipe desenvolveu e executou mais de 50 projetos integradores de reconhecida grandeza educativa, como por exemplo:  Campeonato de Robótica, em 2009; Corrida Espacial, em 2010; Flagrantes Ambientais, em 2011; Festival de Música Digital e Confeitaria da Páscoa, em 2012; Oficinas e Festival de Curtas, em 2013; 3º lugar no Brasil no Pronatec Empreendedor, em Brasília, 2013; TEDx, em 2013; Oficinas e remessa de Cartões para o Dia das Mães – mais de duzentos alunos-artistas e mais de sete mil famílias contempladas, em 2014.
              Paralelamente, outras ações com os discentes permitiram o exercício de atitudes de solidariedade, da administração de conflitos, do empreendedorismo e da cultura da cooperação, além das seguintes palestras: “A Ciência como Agente de Transformação Social”, com o Professor Miguel Nicolelis; “Padre Landell de Moura - Gênio, Empreendedor, Inventor e Injustiçado”, com o Jornalista Hamilton Almeida; “Novas Demandas por Educação Profissional”, com o Professor Marcelo Neri; e “Distúrbios de Aprendizagem”, com o Professor Rafael Pereira, dentre outras.
              Como visto, a educação regular conduz bem a formação cognitiva dos jovens, porém deixa brechas no desenvolvimento assistido da volição e da emoção. Por outro lado, a Educação Profissional consegue êxito na formação dos conhecimentos teóricos (cognitivos) e nas habilidades (volitivos), devido às práticas em laboratórios, necessitando, portanto, ofertar maior atenção à causa da educação afetiva-emocional, responsável pela harmonia da convivência com respeito às diferenças pessoais e da obediência às regras normativas e legais das instituições.
              Uma vez constatado que no universo das demissões sem justa causa e por motivos não-financeiros mais de 80% delas são motivadas por inadequações atitudinais dos empregados, o que é comprovado no artigo intitulado “Fofoca e mau comportamento representam 80% das demissões” (FARIAS, 2014), o Senac em Sergipe busca superar essa infeliz realidade por meio deste Programa, comprometendo-se a fazer mais que a obrigação contratual ou curricular, sem qualquer ônus para o aluno. Seus projetos integradores atuam, prioritariamente, no desenvolvimento da educação das atitudes saudáveis e colaborativas para o sucesso profissional.
              Se há cem anos o genial Santos Dumont foi capaz de construir um avião sozinho, igual sorte ele não teria nos dias atuais, em que um único avião é fruto do trabalho de milhares de pessoas. Portanto, desenvolver atitudes e habilidades para o trabalho em grupo é questão basilar na formação profissional moderna.
              Considerando que a proposta deste artigo não é esgotar o assunto, convidamos o ilustre leitor a aprender sobre o tema pelo método Senac Pleno: Vivencie para Saber.   

Referências Bibliográficas
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BAUER, Alfred. A gramática e a fala. São Paulo: Apostila.
BRANDÃO, Hugo Pena. Gestão baseada nas competências: um estudo sobre competências profissionais na indústria bancária. 1999. Dissertação de Mestrado. Departamento de Administração. Universidade de Brasília. Brasília.
CZELUSNIAK, Dani Juliano.  Proposta de sistema para apoio à gestão de competências baseada em sistemas agentes. Dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2007.
DELORS, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. São Paulo: UNESCO, MEC, Cortez Editora, 1998.
DURAND, Thomas. Strategizing for innovation: competence analysis in assessing strategic change. In: competence-based strategic management. Edited by Ron Sanchez and Aimé Heene. Chichester, England: John Wiley & Sons, 1997.
 ______. Forms of incompetence. In: Fourth International Conference on Competence-Based Management. Oslo: Norwegian School of Management, 1998. 
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FARIAS, Waleska. Fofoca e mau comportamento representam 80% das demissões. Disponível em: http://www.abrh-pr.org.br/fofoca-e-mau-comportamento-representam-80-das-demissões/ Acessado em 28 de maio de 2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.
GUIMARÃES, V. S. (org.). Formar para o mercado ou para a autonomia? O papel da universidade. Campinas, SP: Papirus, 2006.
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MARQUES, A. J. Os três poderes. Juiz de Fora: Helvetica, 1997.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2006.
OLIVEIRA, F. M. C. A relação entre homem e natureza na pedagogia Waldorf. Dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2006.
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STEINER, Rudolf. A arte da educação vol.I. São Paulo: Antroposófica, 1988.
_____. Andar, falar, pensar: a atividade lúdica. 4. ed. São Paulo: Antroposófica,1994a.
_____. Como atua o carma: o passado e o futuro no tecer do próprio destino. 3. ed. São Paulo: Antroposófica, 1994b.
_____. O mistério dos temperamentos: as bases anímicas do comportamento humano. São Paulo: Antroposófica, 1994c.
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VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas, SP: Papirus, 2002.
VIEIRA, Francisco Pedro. Gestão, baseada nas competências, na ótica dos gestores, funcionários e clientes, na empresa de assistência técnica e extensão rural do estado de Rondônia – Emater, RO. Dissertação de mestrado apresentada na Universidade Federal de Santa Catarina, 2002.



              ANEXOS

   
Figura 3 Exemplo de projeto com ênfase no Arco Conhecimentos


 
Figura 4 Exemplo de projeto com equilíbrio entre os três arcos


 
Figura 5 Exemplo de projeto de grande abrangência com cobertura total do Arco conhecimentos



 
Figura 6 Exemplo de projeto com grande abrangência sobre os três arcos

 
Figura 7 Exemplo de projeto com ênfase em nos arcos habilidades e atitudes

Figura 8 Exemplo de projeto com ênfase no Arco habilidades