Artigo da palestra Senac Pleno: Plataforma de Engajamento
Paulo
do Eirado Dias Filho¹
Antônio
da Conceição Ramos²
¹Especialista em Pedagogia Empresarial pela Faculdade São Luís de França. Graduado em Pedagogia pela Faculdade São Luís de França. Docente da Disciplina Empreendedorismo em Cursos de Pós-Graduação “Lato Sensu”. Diretor Regional do Senac/SE e criador do Programa Plataforma de Engajamento Senac Pleno.
²Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Tiradentes. Graduado em Pedagogia e Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia Ciências e Letras. Docente da Rede Pública do Estado de Sergipe e em Nível Superior e Coordenador do Programa Plataforma de Engajamento Senac Pleno.
Senac Pleno: Plataforma de Engajamento
“Porque tudo o que acontece neste mundo começa antes no coração
das pessoas”. (Dadi Janki)
1.
Introdução
A
educação brasileira atravessa grandes desafios, fato que é sabido por todos e
mal resolvido por muitos. Um dos problemas mais evidenciados é a concentração
das políticas educacionais com prioridade conteudista nos currículos escolares.
Crê-se, na escola brasileira, que basta ter domínio do conhecimento para formar
adultos e cidadãos livres. Estamos presos pela máxima do pensamento lógico do
século XVII: “Penso, logo existo”, citada por René Descartes (1596-1650), que quando
aplicada aos dias de hoje, torna-se uma armadilha que aprisiona quase todo nosso
sistema de ensino.
Ainda
nesse rico período da história pré-industrial, o homem chegou a acreditar que
poderia predizer todos os acontecimentos futuros por meio de fórmulas
matemáticas. Tal pensamento deriva da equação planetária de Kepler (1571-1630),
que ao observar que poderia prever acontecimentos astronômicos com precisão,
levou muitos a acreditar que se poderia extrapolar essa fórmula para todos os
outros fenômenos, inclusive humanos, de forma determinista.
Prosseguindo
a saga da elevação do intelecto sobre as demais faculdades humanas, a doutrina
da razão é revisitada em Kant (1724-1804), adepto do Iluminismo e estudioso de
Descartes, que afirmou: “Ouse pensar”. A essa época, o pensamento lógico e a
escolaridade eram atributos de poucas pessoas e se fazia necessário combater o
analfabetismo e fomentar conhecimentos matemáticos básicos, para assim, desenvolver
pessoal técnico capaz para o trabalho na incipiente e materialista Revolução
Industrial.
Estaria
a nossa escola atrelada a esse modelo de duzentos anos atrás? Infelizmente, em
grande parte sim. É o que afirma Kincheloe, ao sentenciar que a escola
modernista ancora-se sobremaneira nos valores do passado, o que mantém os
alunos “vítimas das restrições das gerações passadas” (1997, p. 50). Essa
“vanguarda” da razão e da intelectualidade no âmbito escolar é empobrecedora da
visão sobre o homem, pois o reduz à esfera do pensar cognitivo, erguido
sobre as bases cada vez mais instáveis do conhecimento. Nos alerta Morin (2006,
p. 19):
A educação deve mostrar que não há conhecimento que
não esteja, em algum grau, ameaçado. O conhecimento é causa de erros e ilusões.
Devemos destacar, em qualquer sistema educacional, as grandes interrogações
sobre nossas possibilidades de conhecer. O conhecimento permanece como uma
aventura para a qual a educação deve fornecer o apoio indispensável.
Contudo,
essa exagerada ênfase no conteúdo cognitivo “pasteurizado”, por vezes
transmitido por professores despreparados, configura a “educação bancária”
criticada por Paulo Freire (1921-1997), autor do termo. A esse respeito, o
saudoso Tom Jobim disse, com a autoridade de raro gênio: “A inteligência é o
mais pobre dos atributos humanos”. Acontece que esse problema da educação
escolar desconectada da realidade do aluno não é recente, e já combatida há
muitos anos, conforme revela Rousseau (1992, p. 121):
Como tudo que
entra no conhecimento humano entra pelos sentidos, a primeira razão do homem é
uma razão perceptiva; ela é que serve de base à razão intelectual: nossos
primeiros mestres de filosofia são nossos pés, nossas mãos, nossos olhos.
Substituir tudo isso por livros não é ensinar-nos a raciocinar, é ensinar-nos a
nos servirmos da razão de outrem; é ensinar-nos a acreditarmos muito e a nunca
sabermos coisa alguma.
Diante
desse cenário, o Senac em Sergipe, consciente do seu papel como entidade de
referência, provedora de Educação Profissional, passou a desenvolver projetos pedagógicos
transversais que ofertassem uma gama maior de oportunidades de aprendizagem aos
seus alunos, a partir do ano de 2009.
Após
a realização de dezenas desses projetos integradores, cuja maioria envolveu
alunos, técnicos e instrutores em suas execuções; buscou-se a recuperação dos
dados coletados nessas experiências para compilar conhecimentos e formular uma
proposta que orientasse e disciplinasse a produção dos projetos futuros com
ênfase em uma educação integral. O fruto desse trabalho em equipe é o Programa
Senac Pleno – Uma plataforma de engajamento para alunos da instituição, que
visa ofertar algo mais que o mero cumprimento das obrigações legais e
curriculares.
Inspirado
no lema: “Vivencie para Saber”, o Senac Pleno valoriza o aprendizado profundo
que se realiza por meio de experienciar uma nova e multifacetada realidade; possuindo
ainda, uma sugestiva hélice tripla como logomarca (Figura 1).
Figura 1
2.
O
homem tridimensional
Há
alguns poucos milhões de anos, nossos hominídeos ancestrais “desceram das
árvores”³, ocupando as planícies da savana africana. Tal ocorrência os levou a
conquistar o bipedalismo (capacidade de andar sobre dois pés), que implicou em
liberar as mãos para outras finalidades que não o apoiar-se, e a consequente
liberação da boca para a aquisição da fala, conforme ensina Alfred Bauer.
A
conquista da posição vertical em relação à terra e da diferenciação dos membros
em mãos e pés, pernas e braços (ocorridos na aprendizagem do andar) é, para
Steiner, o aprendizado da estática e da dinâmica do Homem interior em relação
ao Universo (STEINER, 2000, p. 37 apud OLIVEIRA, 2006, p. 67). Em suas
palavras:
O
andar é (...) uma abreviatura, uma curta expressão de algo muito mais
abrangente. Dizemos que a criança aprende a andar pelo fato de este aspecto ser
o mais evidente. Mas este aprender a andar implica colocar-se em posição de
equilíbrio diante do mundo espacial. Enquanto crianças, procuramos a postura
ereta, procuramos colocar as pernas em tal relação com a força da gravidade que
com isto possamos obter equilíbrio. Tentamos o mesmo com os braços e as mãos.
Todo o organismo se orienta. Aprender a andar significa encontrar as direções
espaciais do mundo e nelas engajar o próprio organismo (STEINER, 1994a, p. 12).
________________
³Desde que
desceram das árvores, os ancestrais do homem moderno começaram a adquirir
habilidades por alterações físicas que mais tarde originariam o Homo sapiens.
Além
dessa conquista evolutiva, nossos antepassados, então errantes a céu aberto,
adquiriram grande intimidade com os planetas e as constelações celestes; e assim
aprenderam, ao longo de toda a evolução pré-Revolução Industrial, a guiar-se
pelo céu no tempo e no espaço. Por certo, a tridimensionalidade se torna o
ambiente natural dos humanos, agora Homo sapiens.
Seja na relação do espaço dividido em três dimensões (largura, altura e
profundidade) ou na interpretação do tempo, triplamente dividido em passado,
presente e futuro.
Para
que a tridimensionalidade seja, de fato, o ambiente natural dos seres humanos,
a natureza os dotou de três instrumentos fisiológicos e funcionais para a
correspondente leitura de cada uma dessas dimensões.
Com
relação à natureza anímica humana, Platão assim definiu: “Há três membros (tría
trichè) da alma: logistikón, timocrática e epitimétrica”. Isso pode ser assim
traduzido: “A alma é trimembrada”, entre pensar, sentir e querer (ANDRADE, 1994
apud MARQUES, 1997).
.
Aprendemos
no Ensino Fundamental que o corpo humano se divide em cabeça, tronco e membros.
Então, a Pedagogia Waldorf, contribuinte do Programa Senac Pleno, revela-nos
que possuímos na cabeça o Sistema Neuro-Sensorial, a sede do Pensar (cognitivo);
no tronco, acima do Diafragma, o Sistema Rítmico, a sede do Sentir (emotivo); e
nas vísceras e membros, o Sistema Metabólico-Reprodutor-Motor, a sede do Querer
(volitivo). A partir dessa cosmovisão do ser humano, essa linha pedagógica humanista
desenvolveu práticas educativas que visam harmonizar o desenvolvimento das
crianças e jovens nessas três esferas simultaneamente, e com igual intensidade
em suas aulas e atividades escolares. Assim, a educação se dá nos níveis
correspondentes de consciência, semi-consciência e inconsciência, representado
por cada um dos três sistemas, nessa ordem.
Conforme
explica Rudolf Lanz (2000), para pensar, observar e conhecer, o indivíduo deve
estar separado do objeto, de modo que esse possa ser definido, analisado,
situação esta que tem como característica a “antipatia”.
Em
contraste o querer só pode dirigir-se ao futuro. Nós nos unimos ao que queremos
por um sentimento de simpatia; queremos ser uno com nosso ato. Ao querermos
algo projetamo-nos em direção ao futuro, da mesma forma como nos voltamos para
o passado ao “conhecermos” (LANZ, 2000, p. 91).
Quanto
ao sentir este autor diz: O sentir, sempre dirigido para uma vivência presente
re’present’ada, esta no meio entre ambas (2000, op. cit. ).
O
Pensar - Reconhecemos que nossa capacidade de pensar está estruturada pelas
vivências, pelas experiências passadas, pela memória e pelos conhecimentos
adquiridos anteriormente. Pensar sobre o passado é uma experiência natural a
todos nós. Porém, pensar sobre o que acontecerá no futuro é mera especulação,
de tal forma que os que dizem possuir essa capacidade são ditos sobrenaturais.
Diante do exposto, concluímos que o Sistema Neuro-Sensorial, sede do pensar, é
o nosso instrumento adequado para lidar com o passado. Do ponto de vista
fisiológico, encontra-se sediado principalmente na cabeça, região maior dos
nossos sentidos, por onde captamos o mundo e nos alimentamos, ou seja, trazemos
o mundo exterior para dentro de nós. O Pensar “é exercitado pela linguagem
cognitiva ou lógica”,...e “não suporta repetições” (OLIVEIRA, 2006, p. 45).
O
Querer - O agir humano é expresso pelo trabalho e resultante da vontade de
fazer, ainda que bruta ou instintiva; unida a uma ação motora. O querer,
sediado no Sistema Metabólico-Reprodutor-Motor é a expressão da volição em seu
estado mais inconsciente, ou seja, são as forças mais naturais, viscerais e
autônomas. Como consequência, toda ação se dá na construção do futuro, uma vez
que não conseguimos agir sobre o inalcançável passado. Quanto à fisiologia,
trata-se da esfera excretora do corpo e tem a maioria dos órgãos trabalhando de
maneira involuntária, obediente a seus próprios ritmos. A educação dessa
atividade anímica “se dá pela via da repetição (do ritmo), dessa forma só se
pode aprender algo pela insistência” (p. 45, op. cit.).
O
Sentir - Expressa a dimensão que corresponde à esfera emocional, responsável
pelas relações sociais dos indivíduos. Por outro lado, é o Sistema Rítmico,
sede do sentir, que nos coloca situados no presente, o aqui e agora. A própria
fisiologia nos revela que a incessante troca realizada é tão fortemente vinculada
ao presente, por meio da inspiração e expiração, além de sístole e diástole; que
sem a qual não se sobrevive mais que alguns poucos minutos. Por ser o sistema
mediador e regulador das polaridades conscientes e inconscientes, é o provedor
dos nossos sonhos, sendo “atingido por meio de imagens (que podem se dar por
meio de uma linguagem onírica, que se dirija à imaginação)” (p. 45 op. cit. ).
3.
Escola
e trabalho: uma união possível
Para
a formação das competências profissionais, o Senac em Sergipe entende que se deve
aliar os fundamentos pedagógicos, andragógicos e técnico-profissionais ao
processo educativo numa experiência em que haja troca de papéis protagonistas
entre docentes e alunos, considerando a relevante bagagem de experiências que
estes últimos já possuem ao ingressar nos cursos profissionalizantes, a partir
dos dezesseis anos de idade. Diante dessa perspectiva, Vasconcelos (2003, p.
140) alerta: “Nenhum observador pode fazer referência a algo real, que exista
independentemente dele, para validar sua experiência. Não há outra forma de
validar, a não ser por meio de outra experiência”.
Além
disso, merece destaque que as carências causadas por uma vida escolar precária
implicam em deficiências na atuação profissional futura, se não superadas por
um programa de capacitação. Ainda em 1919, Rudolf Steiner, criador da Pedagogia
Waldorf, demonstrava preocupações com a ausência de ações pedagógicas para as
esferas afetivas e volitivas dos escolares.
Na educação e no
ensino do futuro, deverá ser atribuído um valor muito especial ao cultivo da
vontade e da vida afetiva. Mesmo aqueles que não cogitam de uma reforma do
ensino e da educação afirmam a necessidade de se dar especial consideração à
educação volitiva e emotiva: mas não obstante toda a boa vontade, não pode
haver, desse lado, muitas contribuições para essa educação da vontade e dos
sentimentos. Esta continua deixada ao assim chamado acaso, por não existir
nenhuma compreensão da real natureza da vontade (STEINER, 1988, p. 52).
Presentemente,
o conhecido Relatório Delors, intitulado “Educação: um tesouro a descobrir”,
oferta as bases da Unesco (1998) para a Educação no século XXI. Nele, são
apresentados quatro pilares a serem trabalhados nas ações pedagógicas
escolares, assegurando uma educação integral e adequada ao cenário atual. São
eles:
a)
Aprender a conhecer - Essa aprendizagem se refere à aquisição dos
"instrumentos do conhecimento", desenvolvendo nos alunos o raciocínio
lógico, a capacidade de compreensão, o pensamento dedutivo e intuitivo e a
memória.
b) Aprender a fazer - Saber fazer
ou dominar competências não se separa de aprender a conhecer, mas confere ao
aluno domínio tecnológico que aplicará na prática aos conhecimentos teóricos, combinando
aptidão para o trabalho em equipe com capacidade de iniciativa.
c)
Aprender a conviver - Esse domínio da aprendizagem atua no campo das atitudes e
dos valores, além de envolver uma relação social saudável contra o preconceito
e as rivalidades diárias que se apresentam no desafio de conviver. É a arte da
construção das relações pessoais e da cultura da cooperação.
d)
Aprender a ser - Essa aprendizagem depende das outras três, e dessa forma a
educação deve propor como uma de suas finalidades essenciais o desenvolvimento
do indivíduo, espírito e corpo, sensibilidade, sentido estético,
responsabilidade pessoal e espiritualidade.
Igualmente presente em nossos dias
está a exigência da construção de competências profissionais para a superação
dos desafios do mundo do trabalho. Assim, unindo a necessidade de aprender
continuamente para o trabalho, Durand (1998 e 1999, apud BRANDÃO, 1999), utilizando
as chaves do aprendizado individual de Pestalozzi (1746-1827) - cabeça, mão e
coração -, apresenta um conceito de competência referendado nas dimensões
conhecimentos, habilidades e atitudes, reunindo aspectos cognitivos, técnicos,
sociais e afetivos relacionados ao trabalho.
Sendo as competências formadas por
conhecimentos, habilidades e atitudes, a junção das três iniciais (CHA) reúne o
que um posto de trabalho de uma empresa exige para que o serviço/produto seja
bem administrado e feito em conformidade com os padrões mais exigentes. Essas
atribuições estão definidas a seguir:
a)
Conhecimento é o saber que a pessoa acumulou ao longo de sua vida (DURAND, 1998,
apud CZELUSNIAK, 2007). Relaciona-se com a capacidade de abstração, o
raciocínio lógico e os atributos intelectuais e cognitivos associados ao
domínio teórico para solução de problemas.
b)
Habilidade refere-se ao saber como fazer algo (GAGNÉ et al., 1988, apud BRANDÃO,
1999). Revela a capacidade de execução prática da solução de problemas, isto é,
a ação disciplinada na realização de uma determinada tarefa/atividade com
eficiência.
c)
Atitude é a predisposição do indivíduo em relação à adoção de um
curso de ação. Domínio relacionado a
sentimentos, crenças e valores (BLOOM et al., 1973, apud BRANDÃO). Refere-se
aos aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho (DURAND, 1997).
Pode-se dizer que é a “postura” que o indivíduo adota em relação aos eventos,
pessoas ou coisas, decidindo por um curso de ação pessoal, visto que as pessoas
têm preferências por determinados tipos de atividades e demonstram interesses
por certos eventos em detrimento de outros.
4.
A
grande convergência
“As leis gerais são muito poucas. As metamorfoses é
que são infinitas”. (Goethe)
Como
vimos, a educação regular ideal, segundo a Pedagogia Waldorf, deve atuar no
desenvolvimento educacional das esferas da cognição, da emoção e da volição
para a formação harmoniosa do ser humano dotado de amplas potencialidades e
capaz de definir por si os rumos da própria existência. Ou, nas palavras de
Rudolf Steiner: “... nosso mais alto empenho deve ser o de desenvolver seres
humanos capazes de, por eles próprios, dar sentido e direção às suas vidas”.
Postulado
Euclidiano define que “por três pontos não colinerares do espaço passa um único
plano”. Com base nisso, à imagem da própria instituição da Universidade
ordenada sobre o tripé Pesquisa, Ensino e Extensão, o Senac Pleno define seu
plano sobre os três pontos anteriormente citados, como atividades anímicas
gerais do ser humano: Pensar, Querer e Sentir - que ao passar por metamorfoses
funcionais apresentam-se como Aprender a Conhecer, Aprender a Fazer e Aprender
a Conviver, ao aproximarem-se dos
parâmetros educacionais; ou sob a forma de Conhecimentos, Habilidades e
Atitudes, ao revelarem-se na linguagem das Competências exigidas no mundo do
trabalho.
Conforme
Saturnino de la Torre,
A
aprendizagem integrada poderia ser descrita como o processo mediante o qual
vamos construindo novos significados das coisas e do mundo ao nosso redor, ao
mesmo tempo em que melhoramos estruturas e habilidades cognitivas,
desenvolvemos novas competências, modificamos nossas atitudes e valores,
projetando tais mudanças na vida, nas relações sociais e laborais. E isto
baseado em estímulos multissensoriais ou processos intuitivos que nos impactam
e nos fazem pensar, sentir e atuar (TORRE, 2004, p. 82).
5. O
Programa Senac Pleno – Plataforma de engajamento
Uma vez entendido o paralelismo
entre as estruturas tridimensionais da educação e da formação das competências,
o Programa Senac Pleno teve seus mecanismos de utilização definidos em três
Arcos:
ARCO I: Ênfase em Conhecimentos/Aprender a
Conhecer/Pensar
Aprender
por meio da aquisição dos "instrumentos do conhecimento" a
desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade de compreensão, o pensamento
dedutivo, indutivo, analítico, sintético e a memória. Além de propiciar um
ambiente estimulante ao pensar criativo e atento às oportunidades do moderno
ambiente tecnológico. Visa, ainda, ampliar a bagagem teórica e a articulação
mental interdisciplinar dos alunos.
Este
ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:
•Reforço Técnico-Profissional e Itinerário
Formativo
Oferecer
reforço escolar como complemento para a formação profissional e suporte técnico
para sanar dúvidas dos egressos, além de roteiros para educação continuada.
•Interdisciplinaridade, Pesquisa e
Gestão do Conhecimento
Oferecer
o domínio de ferramentas capazes de lidar com os desafios da economia do
conhecimento, caracterizada pela larga capacidade de produção e oferta de
oportunidades.
•Fronteiras Humanas: Narrativas
Exemplares
Oferecer
acesso a expoentes, ícones e celebridades nos diversos campos do conhecimento e
das atividades humanas, por meio de palestras, workshops e momentos de convivência.
• Inovação, Criatividade e Tecnologia
Oferecer
estímulos ao pensamento criativo e, consequentemente, enxergar na inovação
tecnológica uma oportunidade de geração de valor.
ARCO II: Ênfase em Habilidades/Aprender
a Fazer/Querer
Agir
com coerência entre a teoria e a prática, educar a volição, exercer práticas
instrumentais, artes e protagonismo, com o objetivo de empreender a construção
dos seus projetos e estimular a visão de longo prazo.
Este
ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:
•Empreendedorismo, Superação e Realização
Pessoal
Oferecer instrumentos e estratégias
para a construção de sonhos e projetos de vida, com visão de longo prazo e
estabelecimento de metas, buscando sempre um futuro melhor.
•Artes, Talentos e Novas Aptidões
Oferecer
experiências inéditas que possam manifestar talentos diferenciados, propiciando
a descoberta de potencialidades e aquisições de novas habilidades. Fazer da
arte um estimulador pedagógico.
•Esportes, Jogos e Eventos
Oferecer
a oportunidade de execução de projetos, atividades esportivas e lúdicas,
preferencialmente coletivas, capazes de proporcionar o reconhecimento de
valores éticos, como o respeito às regras e às pessoas, visando aumentar a
resiliência e a capacidade de conviver com a adversidade.
•Autoria, Protagonismo e Cocriação
Oferecer
ações que incentivem a autoria de produção própria, individual ou coletiva e
educar para o racional compartilhamento dos recursos disponíveis.
ARCO III: Ênfase em Atitudes/Aprender
a Conviver/Sentir
Motivar
as atitudes corretas, os valores humanos e a construção de um nobre código de
ética, estimulando a harmonia das relações sociais, das redes de
relacionamentos, da cultura para o trabalho, da imagem pessoal e profissional e
da qualidade de vida.
Este
ARCO se estrutura sobre os seguintes setores, ofertando:
•Cultura Empresarial, Empregabilidade
e Liderança
Oferecer
condições para o desenvolvimento de atitudes construtivas no trabalho que visem
fortalecer o desenvolvimento profissional e da carreira, bem como da
imprescindível confiabilidade.
•Rede de Relacionamentos, Trabalhos
Cooperados e Reputação
Oferecer
exemplos atitudinais que ampliem positivamente relacionamentos afetivos e do
trabalho, além do cuidado com a imagem pessoal e a comunicação interpessoal.
•Sustentabilidade, Cidadania e Inclusão
Oferecer
ambiente de incentivo à cultura de preservação do planeta e da zelosa e
construtiva convivência social, a partir do respeito às diferenças.
•Apoio Vocacional, Saúde e Segurança
Oferecer
apoio na escolha profissional e ações de prevenção e garantias básicas de saúde
física e mental que assegurem evolução cognitiva.
A
metodologia do Senac Pleno consiste em confrontar o desempenho de um dado
projeto em relação a cada um dos seus doze setores, pontuando valores em uma
escala de 0 a 5 pontos, conforme a pertinência. A partir dessa tabulação, o
sistema informatizado produz um gráfico radar sobre o círculo base com os arcos
e os respectivos setores, demonstrando a abrangência, as ênfases e as ausências
avaliadas no projeto em estudo. Com efeito, a análise gráfica permite, além do
registro, o feedback sobre o
resultado do projeto, bem como o nível de sucesso atingido. Em suma, é uma
ferramenta potencial para a gestão do conhecimento que oferece elevado
aprendizado aos operadores e analistas educacionais, sobre a efetividade de
projetos pedagógicos transversais.
Exemplos
estão dispostos nos anexos.
6.
Considerações
finais
Nos
últimos cinco anos, o Senac em Sergipe desenvolveu e executou mais de 50
projetos integradores de reconhecida grandeza educativa, como por exemplo: Campeonato de Robótica, em 2009; Corrida
Espacial, em 2010; Flagrantes Ambientais, em 2011; Festival de Música Digital e
Confeitaria da Páscoa, em 2012; Oficinas e Festival de Curtas, em 2013; 3º
lugar no Brasil no Pronatec Empreendedor, em Brasília, 2013; TEDx, em 2013; Oficinas
e remessa de Cartões para o Dia das Mães – mais de duzentos alunos-artistas e
mais de sete mil famílias contempladas, em 2014.
Paralelamente,
outras ações com os discentes permitiram o exercício de atitudes de
solidariedade, da administração de conflitos, do empreendedorismo e da cultura
da cooperação, além das seguintes palestras: “A Ciência como Agente de
Transformação Social”, com o Professor Miguel Nicolelis; “Padre Landell de
Moura - Gênio, Empreendedor, Inventor e Injustiçado”, com o Jornalista Hamilton
Almeida; “Novas Demandas por Educação Profissional”, com o Professor Marcelo
Neri; e “Distúrbios de Aprendizagem”, com o Professor Rafael Pereira, dentre
outras.
Como
visto, a educação regular conduz bem a formação cognitiva dos jovens, porém
deixa brechas no desenvolvimento assistido da volição e da emoção. Por outro
lado, a Educação Profissional consegue êxito na formação dos conhecimentos
teóricos (cognitivos) e nas habilidades (volitivos), devido às práticas em
laboratórios, necessitando, portanto, ofertar maior atenção à causa da educação
afetiva-emocional, responsável pela harmonia da convivência com respeito às
diferenças pessoais e da obediência às regras normativas e legais das
instituições.
Uma
vez constatado que no universo das demissões sem justa causa e por motivos
não-financeiros mais de 80% delas são motivadas por inadequações atitudinais
dos empregados, o que é comprovado no artigo intitulado “Fofoca e mau comportamento
representam 80% das demissões” (FARIAS, 2014), o Senac em Sergipe busca superar
essa infeliz realidade por meio deste Programa, comprometendo-se a fazer mais
que a obrigação contratual ou curricular, sem qualquer ônus para o aluno. Seus
projetos integradores atuam, prioritariamente, no desenvolvimento da educação
das atitudes saudáveis e colaborativas para o sucesso profissional.
Se
há cem anos o genial Santos Dumont foi capaz de construir um avião sozinho,
igual sorte ele não teria nos dias atuais, em que um único avião é fruto do
trabalho de milhares de pessoas. Portanto, desenvolver atitudes e habilidades
para o trabalho em grupo é questão basilar na formação profissional moderna.
Considerando
que a proposta deste artigo não é esgotar o assunto, convidamos o ilustre
leitor a aprender sobre o tema pelo método Senac Pleno: Vivencie para Saber.
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ANEXOS
Figura 8 Exemplo de projeto com ênfase no Arco habilidades |